Aula normal. Na verdade, normal é um adjetivo muito injusto pra definir a aula de Teoria da Comunicação. Eu poderia começar com um "aula singular" (incomum demais), "aula maravilhosa" (clichê demais!), "aula esclarecedora" (ainda não o era quando o fato ocorreu de fato). Okey. Evitando mais delongas, isentarei "aula" de adjetivos. Aula. Ponto.
Perdida num devaneio, entre céu, terra e éter, lá estava eu, na primeira banca da primeira fila, olhar fixo nalgum ponto vago. A aula, repito, estava ótima e não existiam razões aparentes que justificassem minha distração. Acontece que um déficit de atenção sempre me perseguiu e, mesmo nas coisas mais interessantes da vida, costumo ser acometida por essas crises temporárias de ausência (não, eu não sou epilética). Minha culpa, minha máxima culpa.
Enfim, lá estava eu, dividida entre fantasia-realidade, num estado momentâneo de transe, enquanto fixava os apontamentos no caderno - referências a Peirce, Saussure, Freud, semiótica, sexo, prisão de ventre e outras "mirabolices" (com a licença da digníssima Língua Portuguesa).
Eis que fui abruptamente chamada de volta à realidade - ah, bandida! - pelo que julguei uma frase absurda, proferida pelo professor. Ele, que falava numa voz plácida, que eu adorava ouvir, citou, como era de praxe, a máxima de um de seus teóricos. Acontece que eu não estava preparada pra ela...
- A palavra é fascista.
Fascista?! Como assim? A palavra me era um mundo de possibilidades, me tornava senhora de quantos destinos quisesse. A palavra! Não havia nada que me fascinasse mais que o poder que ela atribui a quem sabe usá-la. Eu sonhava em, um dia, incluir-me nesse rol.
- Hã?
Perdoem-me, foi o único som que a minha incredulidade e surpresa me permitiram emitir. A palavra, fascista? Ela, que me era a libertação? Que, onde quer que estivesse grafada, alçava vôo e deixava que a minha imaginação fluísse? O professor pousou o olhar em mim.
- Sim. Estamos presos à limitação da palavra. À limitação do seu significado. A palavra é fascista porque nos obriga a falar.
A explicação mergulhou-me novamente nas divagações. Só que, agora, eu refletia acerca daquela frase, que mostrou-se absurda, a princípio, e agora mostrava-se absurdamente certa. Sim, de fato, a palavra é totalitária! E nós, que lidamos com ela, somos os seus prisioneiros. Impossível viver sem ela num mundo que são aglomerados de idéias convergentes ou divergentes, sei lá. Mais ainda, é impossível viver com ela. A palavra é irrevogável. Criadora, criatura, destruidora.
Quantas e quantas vezes eu já quis dizer coisas lindas que soavam terrivelmente estúpidas quando "palavreadas"? Quem nunca achou um "eu te amo" bobo e fora de contexto? Há um sentimento grandioso dentro de nós. É a coisa mais pura, terna, intensa, blablabla, que já sentimos, e quando expressamos... Ah. Que comum. Como diriam Nancy e Frank Sinatra (ou, numa versão mais "atual", Nicole Kidman e Robbie Williams)... "And then I go I spoil it all by saying something stupid like I love you..."
Eu, hein. A razão está com o JH. "Acho que o dicionário nunca amou..."
5 comentários:
posso me incluir aqui? fiquei :O quando ele disse isso. Depois, eu percebi que era verdade e que eu não conseguia enxergar além do que eu via.
A palavra é fascista é inevitável. u.u É a Rafaela aqui, por sinal XD Desculpe o amor a pseudônimos, é coisa de gente doida, ligue não...
Tá muito bom o blog, viu, Ludi? Vou ver se comento com mais freqüência a partir de agora... Dá uma olhada no meu depois, ele não é tão literário, mas dá pro gasto, rsrs... É só clicar no nick, Aka-chan, e procurar lá no perfil.
Vou indo, kissus...
Mas é mesmo. Seria o único regime fascista no mundo onde eu aceitaria ser explorado!!!
as palavras ferem porque os homens as usam como armas.
texto novo.
inspiração sua.
=*
"as palavras ferem porque os homens as usam como armas." [2]
as usamos assim porque somos seres bélicos. gostamos de ver o sangue jorrar, gostamos de machucar e gostamos de saber que coisas não precisam ser afiadas, apontadas, rombas, pesadas ou reais para machucar fortemente alguém.
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