sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mútuo

Era um par de horas, mas poderia ser uma vida. Não era amor, mas poderia ser melhor, mais que isso, até: uma conseqüência. Sem punições à vista, sem nada que ofuscasse a importância daquele agora.

Eles estavam frente a frente. Entre goles discretos, monossílabos e meios sorrisos, algo muito maior se insinuava, cuja medida exata eles não tinham – não precisavam ter, na verdade – mas podiam sentir e reproduzir em cada gesto, mínimo que fosse.

Conheciam-se, mas fingiram-se estranhos um ao outro. Achavam melhor redescobrirem-se devagar, feito crianças ignorantes da mesquinhez adulta de viver em guerra contra o tempo. Não havia necessidade de pressa, já que nenhum dos dois tinha a mínima intenção de fugir. Por que não a rendição, lenta e completa, se ali havia tanto a saber? O tempo, junto a tudo o mais que não fosse eles dois, fora relegado ao patamar das coisas desimportantes.

Então”, ele disse, com os olhos.

Então?”, ela respondeu, com o olhar.

...?”.

Eu temo, e você sabe”.

Você teme, e eu sei... E temo também”.

Tememos”.

Mas quero”.

Queremos, então”.

E então...?”.

Por que havia tantos senões diante daquele querer de duas vias? Era apenas questão de reinventar o mundo que impossibilitava aquele recém-nascido ‘nós dois’. Ele já parecia, em seu mutismo, refeito. Ela, no entanto, ainda desconhecia a bravura de despir-se dos anos. E muitos foram os minutos de silêncio, torcer de mãos e olhares atravessados. Por muito tempo, ela preferiu não notar o clima que se desenhava nítido ao seu redor. Tentou pôr a seu favor o desaviso – por desconhecer que caminho tomar – até que ele calou num beijo aquela boca muda de porquês.

Foi quando o renovar de ideias não pareceu das empreitadas mais difíceis.

7 comentários:

Uiberon disse...

Lindo, belo até nas minuciosidades. Me surpreendo cada dia mais com você, lud. Não digo para continuar assim, apesar de que continuando assim você continua perfeita, mas o bom amigo é aquele que lhe incentiva a crescer cada vez mais.

Mika disse...

Ele teme porra nenhuma que eu to ligada!!!!!!!!!!!
Nem teme nem respeita!!!!!!!!!!
Se respeitasse não sugeria!!!!!!!
NUMVOMENTI
(Esse comentário parece fofoca de tias sobre o vilão da novela IOASJDOAJSDIOAJSD)
Lindo -s
Mas não entendi o que vc quis dizer no final -a A.

Marden disse...

(8)Lay down your arms, and surrender to me...(8)

O texto é bom, mana. Aquilo que eu comentei ontem é mais porque eu achei meio estranha a combinação da sua escrita com o tema. Sei lá. Mas no geral ta bom.

Ps: Eu-lirico né? Ta certo...

Rafa disse...

Ah, esses poetas... Nunca sabem quando parar... -.- (comentário completamente dissociado do momento. Talvez) Interessante o texto, com alguma coisa de familiar, que não tenho certeza de que... Go for the inovations, my friend. :P

ISA disse...

Como disse o Mardem e eu faço jus das palavras Beatlenianas: 'Lay down your arms, and surrender to me...'.

Eu sempre defendo que o melhor da vida é viver, mesmo que vc pague preços altíssimos, mesmo que vc um dia se esqueça.

Amores mudos e mútuos são o que são.

Bjo, te amo.

crap disse...

" feito crianças ignorantes da mesquinhez adulta de viver em guerra contra o tempo."

"Era apenas questão de reinventar o mundo que impossibilitava aquele recém-nascido ‘nós dois’"

sabe que isso não é tão simples quanto parece.

gostei do todo, mas esses dois momentos merecem grande destaque.

nelson netto disse...

achei o texto todo bom.

"até que ele calou num beijo aquela boca muda de porquês."

achei especialmente foda.
sem mais.