— Sabe que eu não pensei que você fosse assim tão alta?
— Alta? Eu não sou alta.
— É mais alta do que eu previa. E mais bonita, também. Mas o seu sorriso é do jeitinho que eu imaginava.
— Como?
— Sincero.
— Você adivinhou meu sorriso?
— Sim. E adivinhei que você ficaria vermelha se eu te dissesse isso.
— Puxa, eu sou tão previsível assim?
— Talvez porque eu te imaginei durante muito tempo, não? Talvez seja por isso.
Apesar do frio e do vento, eles tomavam sorvete, enquanto caminhavam pela orla. Ela, corada, mantinha o olhar no horizonte acinzentado, observando o quebrar das ondas. Ele mantinha os olhos nela.
Em algum dia no tempo haviam sido um casal. Mas isso era quando milhas e milhas e uma tela de plasma os separavam. Quando, entre tantos conterrâneos, o coração da jovem elegeu esse desconhecido cuja existência ela não saberia, não fosse a internet. Quando, sorte ou azar, ele também a escolheu, além de cabos e conexões e fibra ótica.
Mas o tempo não lhes foi benevolente. A Vida reclamou sua aprendiz – ela, uma adolescente sem muita experiência, que odiava dizer adeus, mas tinha, à porta, milhares de novos sentimentos chamando-a a conhecê-los. Ela não podia ignorá-los. Ele, por ser mais velho, algumas ex-namoradas no currículo, entendeu, achou justo. À sua pequena – era assim que ele a chamava – disse: “você merece alguém que te ame muito, e bem de perto. E que goste tanto do teu sorriso quanto eu”. Ela, triste, aquiesceu.
À época, tempo e distância disseram não. E tudo seguiu seu curso. Garotas e garotos depois, quando nenhum dos dois desavisados esperava o sorriso do acaso, eis que as circunstâncias consentiram. E ela viajou para longe. E encontrou-o.
Ela só conseguia pensar na ironia do destino – ou em seu hábito peculiar de escrever nas entrelinhas. Agora ele pertencia a outra, e ela, que desde seu último relacionamento recusava-se a deixar qualquer sentimento assumir grandes proporções, encontrava-se cercada por um muro de reservas e auto-proteção. De perto, ele era mais bonito e mais hipnótico do que ela supunha. Por fotografias ele não parecia tão magnético.
Eles não passaram mais que algumas horas juntos. Ela voltaria aos amigos; ele voltaria à amada. Mas nem por isso impediram-se de, discretamente, analisarem-se mutuamente. Ela notou a segurança do rapaz e seu empenho em fazê-la sentir-se segura também. Notou o sorriso terno com que ele a encarava. Ele, por sua vez, notou que ela baixava os olhos sempre que ele lhe sorria. Quis tranquilizá-la, mas a timidez dela era tão... O meio-sorriso da garota combinava tão bem com o rubor em seu rosto!
Fosse este um conto de fadas, eles teriam se rendido ao momento e ficariam juntos, ainda que por um dia. Mesmo sob o risco triste e doce da saudade, mesmo configurando o crime de traição. Mas esta é uma história virtual. Após um longo abraço, eles seguiram rumos opostos. Sem tristeza.
Com a jovem, ficou a gratidão. Talvez ele fosse o único a quem ela era encantadora, simplesmente por ser. Isso bastava aos dois.
— Te vejo online!
— Pode apostar que sim.
:)
15 comentários:
tô ligado que tem um fundo de verdade nessa história... (a) hahahahahahah =*
Me senti lendo um românce <3
Oii, adorei o seu blog, eu acabei de fazer um, e não achei o link de seguir aqui no seu. Como eu faço pra te seguir? =*
É isso ai, quando nem tudo é o que parece ser, talvez essa jovem encontra-se o lugar certo na hora errada, pena, seria um belo desfecho pra essa historia um beijo ao por do sol, pena...
Sera que tem verdade nisso? Será?
Ótimo conto e tomara que seja fictício. Confesso que tive vontade que os personagens traíssem um tantinho suas concepções de mundo, a namorada distante, enfim. E se dessem além. Além das sensações. Não sei se por depravação ou desejo de uma pontinha de felicidade possível.
Bem, continuo a gostar do virtual, mas não quando ele impossibilita algo real.
É isso.
Abraço.
Isolda.
Incrível como td q vc toca, vira pluma... rs.
hahahahaha
pareceu um conto de fadas mesmo.
escrevi um milhão de coisas, mas engoliram meu comentário, então fica esse: aquela coisa q vc falou do eu-lírico reter características do autor sempre. no seu caso parece uma espécie de eco, como se você realmente estivesse querendo falar algo, e se direciona mais em qestões de meiguice. geralmente é o que dá a marca feminina no texto, mas pra você vê como são as coisas, o que eu mais gostei são os de postura diferente, os que agridem mais.
poxa...
é isso.
uisahsuaishuias
=*
Poxa...
O Nelson falou o que eu queria dizer.
Mas bem, esse ficou bacana.
gostei muito lud. ficou muito legal. parabéns!
Sério, tá fazendo sucesso... O conto de fadas realista que ainda consegue ser romântico... Só podia ser coisa sua, nee? =P Continua assim, menina
Usando um belo clichê:
"=O"
Ficou bom, hein?!?!?
Gostei!!
pessoas tem a incrivel capacidade de serem muito mais atraentes à distância e de serem extremamente desejáveis de se estar perto quando essa distância se estabelece.
Só vive no desenrolo, né?
quem não se identificou que atire a primeira pedra :p
o mais legal é como você conseguee captar situações que são bastante corrente atualmente, acho que a identficação que eu senti, e que muitos devem ter sentido vem daí. Belo texto :)
www.artenaarteria.blogspot.com
www.sobrefilmeselivros.blogspot.com
Só porque eu ainda não comentei nesse seu texto... paa variar, ficou lindo. E acho que reconheço esse tal reencontro, não é mesmo dona Ludmila? ;x
Tay.
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