Sai do
quarto, Ana, e vem ver o mundo que pode te fazer feliz. É verão, faz calor, a
cidade se enfeita de sol e de gente e só você não vê. O mundo quer te ver, Ana,
eu quero te ver também.
Você já viu
a forma como a lua se reflete no mar? Parece um espelho, Ana. Parece um espelho
e o vento salgado que vem da praia envolve o nosso corpo e esquece na gente o
cheiro do mar. E as ondas, Ana, você já ouviu? As ondas que quebram na areia e
a gente não sabe se é fúria ou carícia? Está tudo lá, Ana, e lá estão todas
pessoas a ver e cheirar e sentir e só você se enclausura nesse castelo que me
priva de você e que te priva de si mesma.
As pessoas,
Ana. Os rostos que se fundem num mar colorido de gente, distinto e indistinto. São
tantas nuances e formatos, Ana, quem me dera memorizá-los. Vez em quando eu
pesco um sorriso gratuito ou outro, gente que sorri só por sorrir e gente que
passa o sorriso adiante e assim o dia ri mais. Aí o riso chega em mim e eu
choro, Ana. Eu choro por não poder repassá-lo a você.
Sai desse
quarto, Ana, vem ser da gente. Vem ser só sua ou de quem quiser, mas vem ser. Enclausurada
você não é, Ana, enclausurada você não vive, só existe. Sai daí e vem ver as
feridas abertas da cidade, os esgotos e a miséria, a música e a dança e tudo o
mais que existe além da janela. Vem ver a gente que te ama e que de amor não depende,
mas se alimenta. Vem ver a gente que quer te ver. Porque com você aí a vida
continua, Ana, segue o mesmo rumo de sempre, no mesmo andar morno de sempre...
Mas com você, Ana, ela para pra te ver passar.
E sem isso,
Ana, não dá pra viver sem.