A gente não se
olha nos olhos, você reparou? Parece que ficam no ar todas as acusações implícitas
do nosso quase-amor – esse atrevido, que agora dorme tranquilo no vão dos anos
que se passaram.
Já faz tanto
tempo, não é?
Parece até
covardia falar em saudade. De tudo o que foi eu só queria de volta minha
poesia, porque parece que você a levou toda embora e esgotou toda a minha sorte
em histórias de boa loucura. Sabe? Como se numa tacada só eu tivesse me
permitido toda inconsequência que uma vida admite? É coisa injusta, mas dos
meus dedos não sai mais nada que me agrade desde que nos demos por encerrados.
Você foi meu
melhor beijo, meus maiores suspiros, minha melhor roupa, minha mais louca
canção. Te dediquei tantos poemas, tantas palavras. Me pergunto se você sabe. Nunca
tive coragem de te contar e agora, tenho menos ainda – agora que nossos
caminhos não se cruzam mais.
Nunca nos
pertencemos, mas existe essa parte de mim que não tem outro dono que não você. Gosto de pensar que existe um você que só eu tenho, só eu vi, só eu sei. Também gosto
de pensar que você guarda consigo um pouco do meu eu que foi seu, com o mesmo
cuidado que dedico a tudo que foi nosso.
Nossas memórias
de quase-amor. Você é quem jura ter chegado perto de me amar; eu não tenho
certeza se fiquei aquém da linha de chegada.
Eu só sei que eu
queria de volta aquela fluidez de palavras brotando da saliva. Dos meus olhos. A
malícia quase inocente, aquela ansiedade que me levava embora, embora. Aquele não
saber das coisas. Aquele eu que só você
tem. Essas coisas que ninguém mais pode me dar.
Quero por
querer, porque sei que nada disso posso reaver. Existem coisas que ficam presas
nas dobras das primeiras vezes. Só o que nos sobrou é o suspiro que parece
saudade, embora dizer saudade seja quase um desafio ao presente... E nossos
olhos, que não conseguem se encontrar.
Talvez seja
melhor assim.