É como agora. Me sinto obrigada a falar de você. A falar de como você tem tanta facilidade de manipular meu juízo, e o faz sem querer, talvez por não saber o estrago que causa. Falar de como espero tanto dos seus gestos e de como eles reproduzem tão pouco do que eu desejo. E de como todos os meus quereres esticam o tempo e me roubam o sono. Me vejo confessando segredos ao teto por noites inteiras e me sinto patética ao fim de tudo isso - meus troféus aparecem escuros sob meus olhos e denunciam a qualquer um que você foi a pauta da noite.
Mas de que adianta?
Você continua soberano nos meus pensamentos, no tremor das minhas mãos, na inquietude de não ter - e na pressa de querer. De que adianta perpetuar esse dilema em linhas tão mal traçadas se você não me deixa nem me toma?
'Teu nada é melhor que teu não', escrevi, certa vez. E arrependi-me. As palavras estavam lá, consolidadas, no papel, olhando-me como quem desafia: "negue-nos. Apague-nos. Seus próprios rebentos - mate-nos!". Admiti que uma tempestade não cabe num copo d'água - apaguei-as. Não. Antes teu não, que teu nada.
Prefiro chorar algumas lágrimas de rejeição, doídas, mas com prazo de validade, que viver alimentando expectativas como quem dá de comer à cria. Esperanças podem ser nocivas. Podem roubar o sono. Podem me fazer esquecer do que realmente importa. Prefiro viver com a certeza de que nunca seremos 'nós' que passar as noites dialogando com meu teto, na desesperada espera de um eterno talvez.